Tesouros de Barro | Treasure Clay - New Solo Exhibition
As pequenas histórias de caça ao tesouro, os mapas misteriosos que saem de dentro de garrafas de cor verde, as palas dos piratas, a tapar-lhes o olho, a perna de pau, estão fortemente intrincadas nas memórias de infância.
As peças, em barro, de André Teoman, presentes na exposição “Tesouros de barro”, parecem evocar esses “mementos”.
Os objectos são importantes na medida em que são fontes de memórias, de associações, de inter-relações, além da utilidade e aparência, tidas como prioritárias. Muitas vezes tornam-se tesouros, porque a eles estão associados momentos únicos de felicidade, sentimentos especiais, pequenas histórias.
Tornamo-nos por isso reféns das próprias coisas, na medida em que são detentoras de significados pessoais, que nos trazem à mente momentos mágicos.
A ligação às coisas não se faz, por isso, meramente por meio das coisas em si, mas sim pelo relacionamento que estabelecemos com elas.
Como dizia Csikszentmihalyi, no seu livro “The Meaning of Things”, vislumbra-se, assim, uma “energia psíquica”, uma atenção mental. Um “fluxo”, que nos torna cativos do objecto, e do que fazemos com ele. Tornando-nos, a nós e ao objecto, um só, na engrenagem do fazer.
O que nos aproxima do objecto é a propriedade de nos associar a um contexto simbólico que nos é familiar, a uma identidade do utilizador que sairá reforçada.
O uso do barro, que é um material tradicional, na aplicação dos temas iconoclásticos, é um aspecto peculiar na obra de Teoman. Responde aos nossos ecos interiores, desejos e preocupações íntimas. Podemos por isso recordar aquela categoria dos objectos sentimentais por excelência, como é o caso dos que encontramos em algumas das criações de Starck, provando que o design existe também na esfera das coisas visuais, do design gráfico, da criação tipográfica, da animação.
O barro é um tesouro escondido, revelador de riqueza e identidade cultural, e evidencia uma tradição em extinção, a técnica de olaria ancestral. Homenageia também o conhecimento e habilidade do oleiro de Barcelos.
Teoman alia, por isso, a técnica da roda com o figurado, pouco comum na actividade de olaria.
As peças expostas, semi-escondidas sob o manto de terra, aludem a uma ideia de “clandestinidade” que, noutros tempos, foi referida por Baudrillard, como se tratando de uma intimidade estabelecida com o objecto desejado, uma satisfação concebida pelo tesouro secreto, privilégio de poucos.
A manipulação que se traduz em uma relação de “singularidade absoluta” com o objecto, e em que o mesmo é comparável a um animal doméstico, exalta e reforça a individualidade da pessoa.
Os objectos deixam-se assim personalizar e talvez por isso as peças de Teoman assumem propriedades antropomórficas.
Carla Carbone
The little treasure-hunting stories, the mysterious maps that come out from inside green bottles, the pirate's blades covering their eyes, the wooden leg, are very intricate in ours childhood memories.
The clay pieces by André Teoman, present in the exhibition "Tesouros de Barro", seem to evoke these "mementos".
The objects are important insofar as they are sources of memories, associations, interrelationships, as well as utility and appearance, considered as priorities. They often become treasures, because they are associated unique moments of happiness, special feelings and little stories.
We thus become hostage to things themselves, in so far as they hold personal meanings, which bring us to magical moments.
The connection to things is not done, therefore, merely by means of the things themselves, but by the relationship that we establish with them.
As Csikszentmihalyi said in his book "The Meaning of Things", a "psychic energy", a mental attention, is thus seen. A "flow," which makes us captive to the object, and what we do with it. Making ourselves and the object one, in the mechanism of doing.
What brings us closer to the object is the property of associating us with a symbolic context that is familiar to us, a user identity that will be reinforced.
The use of clay, which is a traditional material, in the application of iconoclastic themes is a peculiar aspect of Teoman's work. Respond to our inner echoes, inner desires and concerns. We can therefore recall that category of sentimental objects par excellence, as is the case of those found in some of Starck's creations, proving that design also exists in the realm of visual things, graphic design, typographic creation, animation.
The clay is a hidden treasure, revealing wealth and cultural identity, and shows a tradition in extinction, the technique of ancestral pottery. He also honors the knowledge and skill of the potter of Barcelos.
The exposed pieces, half hidden under the earthen cloak, allude to an idea of "clandestinity" which Baudrillard once referred to, as if it were an intimacy established with the desired object, a satisfaction conceived by the secret treasure, privilege of a few.
Manipulation which translates into a relation of "absolute uniqueness" to the object, and in that it is comparable to a domestic animal, exalts and reinforces the person's individuality.
The objects thus allow themselves to be personalized and perhaps for this reason Teoman's pieces assume anthropomorphic properties.
Carla Carbone